terça-feira, 14 de agosto de 2012

INDICAÇÃO DE LEITURA E CONHECIMENTO.



MENTES INSACIÁVEIS: 
Anorexia, bulimia e compulsão alimentar
Autora: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva
Editora:
 Ediouro


CAPÍTULO 1


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifTranstornos alimentares: Sinal dos novos tipos 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifNos últimos anos, determinados comportamentos associados à alimentação e à imagem do corpo têm sido generosamente divulgados pelos meios de comunicação, principalmente na cultura ocidental. Os jornais, as revistas, as novelas, os documentários, os programas de entrevistas ou os de caráter informativo vêm direcionando sua abordagem especialmente para o público jovem e isso não é por acaso, uma vez que os transtornos alimentares costumam apresentar suas primeiras manifestações na adolescência. Os transtornos alimentares mais relevantes em nosso contexto sociocultural são: a anorexia nervosa (AN), a bulimia nervosa (BN) e a obesidade. Tal relevância se deve ao significativo aumento do número de casos que tem sido constatado nos últimos anos, a ponto de se utilizar a expressão "epidemia de culto ao corpo", principalmente quando nos referimos à anorexia e à bulimia nervosas. 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifA Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que atualmente haja cerca de 180 milhões de obesos adultos no mundo, sendo que esse número se torna significativamente maior se considerarmos os indivíduos com sobrepeso e que por isso mesmo apresentam um risco aumentado de se tornarem futuros obesos. 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifApesar de a obesidade não ser classificada como um transtorno mental, e portanto não ser oficialmente considerada uma categoria diagnóstica dentro dos transtornos alimentares, resolvemos incluí-la neste livro por julgarmos que a obesidade apresenta aspectos de funcionamento muito semelhantes aos transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia nervosas, em função de a mesma caracterizar-se por perturbação no comportamento alimentar, com presença de diversas alterações patológicas associadas, que freqüentemente necessitam de intervenção psiquiátrica. 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifO maior conhecimento sobre esses desvios do comportamento alimentar e da autopercepção corpórea, a maior divulgação pelos meios de comunicação e também pela generosa exposição de pessoas comuns e principalmente de pessoas públicas, que assumem suas dificuldades em controlar seu quadro de anorexia ou bulimia, fizeram com que as estatísticas mais recentes apresentassem uma curva crescente, que parece não ter previsão, a médio prazo, de sequer estabilizar-se em um determinado patamar. O efeito se mantém em espiral crescente. Como afirmamos, a anorexia e a bulimia são hoje consideradas epidemia de fato nas sociedades ocidentais, principalmente as mais industrializadas. Segundo Ballone, esses transtornos têm a grande maioria de seus casos entre pessoas do sexo feminino, sobretudo as adolescentes e as adultas jovens, que representam mais de 90% dos casos de anorexia e bulimia. Não podemos esquecer que nas sociedades industrializadas, onde há excesso de alimentos, luxo e luxúria, ser magra é considerado um dos maiores atributos de atração feminina. Já para os homens o grande atrativo é ser forte e poder exibir músculos salientes – por isso na adolescência eles costumam apresentar um desvio da autopercepção corpórea conhecido por dismorfia muscular, vigorexia ou complexo de Adônis, no qual se consideram incapazes de exibir aos outros a quantidade de massa muscular que gostariam de ter. 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifQuanto à obesidade, o que nos tem saltado aos olhos e ligado o sinal vermelho de perigo é o grande aumento ocorrido na faixa etária infantil nos últimos 15 a 20 anos. A sedução explícita das grandes redes defast-food com brindes coloridos, jogos recreativos e salões para festas comemorativas com coleguinhas são atrativos irresistíveis para os pequenos e para muitos grandinhos também. 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifApesar de a obesidade também acometer adolescentes e adultos em diversas faixas etárias, nossa preocupação com as crianças se deve principalmente às repercussões negativas em suas auto-estimas. Em função da obesidade estas crianças vão crescer sob enorme pressão psicológica e sociocultural por um padrão estético de magreza, sem falar nas complicações clínicas tão comuns em quadros de obesidade (alteração de taxas de colesterol, de pressão arterial, de taxa glicêmica, de função renal, etc.). A não-correspondência ao padrão estético culturalmente cultuado desencadeia discriminação social e um grande e quase insuportável sentimento de auto-rejeição, que acaba fazendo com que essas crianças adotem um comportamento defensivo do tipo social (isolar-se) ou caricato (expor-se na pele de um personagem brincalhão e extrovertido). Ambos os comportamentos expressam dificuldades nos relacionamentos sociais e afetivos que tendem a progredir e atingir graus insustentáveis de sofrimento na vida adulta. Também não é incomum que crianças obesas apresentem doenças auto-imunes como, infelizmente, temos visto em nossa prática clínica diária. Os casos mais comuns têm sido vitiligo (despigmentação da pele) e colite ulcerativa (cólicas abdominais com diarréias intensas com presenças de sangue e muco). 


http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifPodemos observar o sofrimento de Aline, estudante, 18 anos, quando fala sobre seu transtorno alimentar: 

http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifNão sou magrinha até porque quem sofre de bulimia nunca é magro demais! Admiro a força de vontade das anoréxicas, pois não é qualquer uma que consegue viver sem comida... Consegui ficar 15 dias sem comer nada e emagreci 8kg, mas quando voltei a comer eu recuperei toda a banha perdida. Sou bulímica, tomo laxante sim, tomo chás e vomito, é claro. Um dos motivos principais de eu não ser "Ana" é que não tenho condição financeira para pagar os remédios inibidores de apetite, que além de caros só são adquiridos em mercado negro. Sou vegetariana e também não como carboidratos, mas mesmo assim não sou magra, só consigo manter meu peso. Não consigo ir ao banheiro quando fico em restrição alimentar, então quando estou de dieta preciso de laxantes e diuréticos, que já viraram muletas para mim. Sei que a minha família e meus amigos me acham ridícula, sabem que uso remédios laxativos, mas não se dão conta de que isso é ser bulímica... Quem acha que distúrbios alimentares são frescuras de meninas mimadas é muito ignorante, pois esse é um problema que pode atormentar a pessoa para o resto da vida, uma doença terrível! Não me aceito quando me olho no espelho... Tenho noção de que emagreci muito, mas não o bastante para ser feliz porque ainda tenho um quadril enorme e tenho uma facilidade absurda para ganhar peso, coisa de família mesmo. 



http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifÉ importante destacar que os transtornos alimentares são patologias que necessitam ser diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível, uma vez que sua incidência tomou proporções de epidemia e sua gravidade tem feito muitas vítimas, inclusive fatais. Porém, não podemos, em hipótese alguma, deixar de ver o aspecto sociocultural destas patologias, uma vez que a formação da auto-imagem corpórea e dos hábitos alimentares de cada pessoa são fortemente influenciados pela maneira pela qual os membros de uma sociedade pensam e agem com relação ao que seja ter um corpo e uma alimentação saudáveis e esteticamente apreciáveis. É a medicina do comportamento ampliando seu território de análise e compreensão nos chamados "tempos modernos". Esses não são tão coloridos e perfeitos quanto havíamos sonhado na metade do século XX, com o único intuito de ajudar as pessoas, qualquer uma delas, a viver em sintonia com sua essência e, com isso, tornarem-se mais independentes de padrões preestabelecidos que as colocam numa missão impossível de ser o que nunca conseguirão manter (a suposta perfeição) e que as fazem esquecer de cuidarem do que realmente são e poderiam vir a ser: felizes!

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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

http://www.medicinadocomportamento.com.br/imagens/pixel.gifMédica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora técnica das clínicas Medicina do Comportamento do Rio de Janeiro e em São Paulo, onde faz atendimento aos pacientes e supervisão dos profissionais de sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.

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