Transtornos Alimentares: O lado que
ninguém vê!
Pra
começar, nessas horas todo mundo se lembra da Bulimia e a da Anorexia, sendo que existem ainda a Compulsão Alimentar, a Ortorexia e a Vigorexia. Como eu entendo melhor de bulimia e
anorexia, vou falar apenas desses, mas todos os outros citados são tão sérios e perigosos quanto esses dois e as vítimas dessas doenças
merecem atenção, cuidados e um tratamento especializado.
Eu
não vou entrar em detalhes sobre as consequências físicas da restrição
alimentar (Anorexia) ou do vômito induzido, consumo excessivo de laxantes e
exercício exagerado (Bulimia). Você encontra esses aspectos aqui e aqui.
O que eu vou falar
aqui é um lado que muitas vezes não é mostrado nos filmes, séries e novelas.
Muita gente não sabe ou simplesmente nunca considerou que ambas as doenças são
vícios. Aliás, todos os transtornos alimentares são vícios. Se você nunca passou
por isso, provavelmente deve ter pensado “mas se você quer mudar seu corpo, por
que não fazer uma dieta saudável e exercícios físicos ao invés de se machucar
assim?” ao ver alguma foto ou reportagem de uma pessoa anoréxica, mas esse
pensamento é o mesmo que dizer a um alcoólatra para “tomar apenas uma cerveja”.
Muita gente costuma
pensar que as pessoas que chegam a um ponto de ficarem esqueléticas ou serem
internadas em hospitais são fúteis e só se importam com a aparência. Errado!
Anorexia e Bulimia se desenvolvem de maneira diferente em cada pessoa e por
motivos diferentes, como traumas, ansiedade, depressão e outras causas que não
podem ser categorizadas dessa forma. Essas doenças tem muito mais a ver com os
problemas psicológicos do doente em relação a si mesmo e ao mundo que os cerca
do que com as imagens nas capas das revistas (mas é claro que a pressão da
mídia influencia e empurra a pessoa cada vez mais para dentro do seu círculo
vicioso.) Inclusive, muitas pessoas bulímicas ou anoréxicas entendem que estão
magras (ou mesmo que estão num peso saudável) mas elas não conseguem
parar: é como se a doença fosse seu porto seguro, uma maneira de lidar com os
outros problemas.
“Claro que você
pode se recuperar! É só comer!” Não é bem assim. Você não pode dizer a uma
pessoa doente que “é só comer”. Para um anoréxico, o ganho de peso (mesmo que
mínimo) é assustador ao extremo, ainda que ele esteja beirando a morte.
Anorexia e Bulimia são, muitas vezes, sobre controle: a pessoa doente sente que
não tem controle sobre o mundo a sua volta ou sobre a própria vida, então ela
tenta controlar, de uma maneira ou outra, aquilo que come. A recuperação para
muitos anoréxicos e bulímicos é perder o controle, mesmo que ele reconheça que
a doença já tomou as rédeas de suas vidas.
Essas pessoas
sofrem! Não estou falando sobre os desmaios, arritmia e dores de estômago.
Quando falo sobre “sofrer” me refiro a ter medo de comer em público, sobre se
sentir terrivelmente sozinho, sobre o medo e surpresa ao vomitar sangue ou
perder a menstruação, sobre a própria depressão (seja pela pressão que envolve
um transtorno alimentar ou mesmo pela má-nutrição), sobre a culpa e a vergonha,
sobre o medo de ser descoberto, sobre ouvir comentários maldosos… e por aí vai.
A pessoa que está doente, muitas vezes quer ser ajudada e levar uma vida normal
e saudável, mas em partes não deseja abandonar seu distúrbio alimentar e quer
afundar cada vez mais dentro dele, de forma que o bulímico ou anoréxico vive
diariamente esse conflito de querer ajuda mas ter medo de abandonar o tal
“porto seguro”. Outro sofrimento enorme é ver aqueles que os amam sofrendo ao
ver que está doente, e, ainda assim, não conseguir ou não ter vontade de
superar o problema, gerando um grande sentimento de culpa. Lembrando que “não ter
vontade” não significa descaso com aqueles que os amam: isso significa que a
doença já chegou longe o suficiente para que a pessoa não consiga se imaginar
sem ela. Não é egoísmo, é sofrimento!
Nem
toda garota com anorexia é magrelinha ou parece doente, e podem ter certeza que
as meninas das fotos que todos nós vimos um dia já aparentaram ser saudáveis (e
até acima do peso). O mesmo vale para bulímicos, que podem tanto ser magros
quanto “normais” ou estarem acima do peso. Isso quer dizer que a ajuda deve ser buscada o mais
cedo possível: quando a pessoa está extremamente
magra ou muito doente fisicamente, quer dizer que ela provavelmente já vem sofrendo há um bom tempo!
Com o tempo, essas
doenças chegam num estado crítico que não necessariamnete têm a ver com dano
físico: a pessoa se sente completamente dependente da doença para se “manter em
ordem”: cada caloria precisa ser contada, é necessário se livrar de qualquer
excesso, e, aos poucos, sua vida (pessoal, emocional, social, desejos sexuais,
diversão, interesses, família e etc) vai sendo tomada pelos pensamentos
“doentes” e o próprio ato do exercício fisíco e/ou compulsão seguida de
vômito.
Se
você é amigo ou parente de alguém que possa estar sofrendo com Bulimia,
Anorexia ou outros problemas, busque ajuda na internet, com um profissional ou
mesmo com os responsáveis por ela. Sempre pesquise e tente entender como
funciona viver com um transtorno alimentar e, acima de tudo, dê apoio da melhor forma que
puder. Essa é uma batalha dificílima e que
é muito difícil de ser travada sozinho e sem acompanhamento profissional.
Se
você mesma sofre com isso, procure ajuda. Converse com alguém, seja quem for:
tudo se torna mais difícil se você estiver sozinha. É difícil e assustador, mas
é a sua vida que está em jogo e você não é menos ou mais doente que ninguém:
você merece ser feliz e sem estabilizar a sua condição, é impossível. Se ainda
não tem um profissional cuidando de você, procure um, não é vergonha nenhuma.
Procure se informar sobre a recuperação e/ou estabilização da doença, pois quanto mais cedo você
procurar ajuda, maiores são suas chances de ficar bem.
Esse assunto precisa ser colocado em discussão porque as pessoas precisam receber apoio e ajuda, principalmente adolescentes como nós: são muitas mudanças, muitos acontecimentos e muita pressão para encararmos e, infelizmente, esses problemas têm sido mais um peso para milhões de garotas e garotos pelo mundo inteiro.
Enfim, é isso! Desculpem pelo post enorme (mas que
ainda não disse tudo!) e, caso precisem conversar ou tiverem alguma dúvida usem
os comentários. E lembrem-se: nada vale mais do que a sua vida. Cuide-se.
Bulimia
Desde a primeira descrição de bulimia nervosa em
1979, por Gerald Russel, o conhecimento do quadro tem avançado rapidamente
graças à proliferação de grupos de estudos em vários países.
Desde a descrição inicial, os episódios bulímicos
e os comportamentos para evitar o ganho de peso passaram a descrever um novo
grupo de pacientes com transtorno alimentar, que não correspondia aos
critérios diagnósticos para obesidade ou anorexia nervosa.
Atualmente pelos critérios do DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - APA 1994) a bulimia nervosa ocorre entre 1 a 3% das mulheres adolescentes e adultas jovens, sendo a taxa de ocorrência em homens de aproximadamente 1/10 (um décimo) da que ocorre em mulheres. Vinte a 30% de homossexuais masculinos apresentam a doença, e ex-atletas e ex-obesos parecem apresentar maiores riscos (Cordás et ali, 1998). A bulimia nervosa começa no final da adolescência ou início da idade adulta. Os episódios bulímicos, de ingestão compulsiva, com perda de controle, de grande quantidade de alimento em curto prazo de tempo ou mais raro, um longo ritual de várias horas ou uma noite inteira, ocorrem geralmente às escondidas e são seguidos de sensação de culpa, vergonha e desejo de auto punição. Durante os episódios a pessoa não sente prazer e tem sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que ou quanto come está comendo, chegando a ingerir de 2 mil a 5 mil calorias em um único episódio. Já foi relatada a ingestão de 15 mil calorias em um único episódio bulímico (Russell, 1990). |
Data da Publicação: 10/04/2003